EXERCÍCIO FÍSICO NO PÓS-PARTO
Competition
15/05/2023
Com a chegada da maternidade, cada mãe vivencia uma transformação que vai muito além das mudanças físicas. Porém, quando o corpo começa a pedir pelo movimento, como retomar da forma mais gentil possível o exercício físico no pós-parto?
A atividade física é muito bem-vinda após o nascimento do bebê, mas é preciso respeitar o tempo do próprio corpo. Pensar na individualidade de cada mulher, no tipo de parto, na disponibilidade de tempo e na rotina de cuidados com o filho também é muito importante.
EXERCÍCIO FÍSICO NO PÓS-PARTO: BENEFÍCIOS PARA A MÃE E O BEBÊ
Para tratar do assunto com um olhar sensível e gentil, conversamos com a educadora física e doula, Adriana Cavalari. Confira abaixo a entrevista completa:
Competition – A maternidade traz transformações profundas para a vida de uma mulher. Se restabelecer do parto, a amamentação, as mudanças hormonais e no sono, entre outros, requerem dela quase que uma “reinvenção”. Quais as mudanças mais comuns na mulher que acabou de se tornar mãe?
Adriana Cavalari – Para falar do processo de pós-parto, acredito ser muito importante lembrar que a maternidade, principalmente de mulheres que tiveram o seu primeiro filho, é um universo único e muito individual. Parir ou, como preferimos dizer, dar à luz, é um processo que vai muito além de mudanças físicas. Todo o universo muda e o que vem a seguir é sempre desconhecido. Por mais que a mãe tenha lido, se informado e dado o seu melhor, colocar um novo ser no mundo é transformador e estas transformações trazem medos, incertezas, inseguranças, novas descobertas e também muitas alegrias. Mas, nesse carrossel de emoções, se misturam também novas rotinas, responsabilidades, noites mal dormidas e, geralmente, falta de tempo para o autocuidado.
Ao mesmo tempo que encontrar esse espaço para o autocuidado se exercitar contribui não só para o bem-estar físico quanto mental e emocional. Quanto tempo depois de dar à luz uma mãe pode voltar a se movimentar?
A atividade física é muito bem-vinda durante a gestação, salvo nas gestações de risco. Porém, mesmo estas, se bem orientadas, podem praticar atividade física suave, como por exemplo, a Ginástica Holística. Composta por movimentos sutis, ela trabalha todo o corpo, auxiliando as futuras mamães no autoconhecimento. Ela atua na respiração, diminuindo a ansiedade e colaborando nas compulsões alimentares, que levam a um aumento excessivo do peso ou dificultam a perda dele no pós-parto.
Por conta do trabalho assoalho pélvico, a Ginástica Holística pode ajudar quem deseja tentar um parto normal e, caso ele aconteça, repará-lo no pós-parto.
Quando me perguntam “quando posso voltar a me exercitar?”, eu costumo brincar que, no próprio hospital! Sim, o simples fato de treinarmos uma respiração mais profunda e consciente, já nos acalma muito. Melhora a circulação e a oxigenação, o que neste momento já é uma grande coisa.
Isso muda, dependendo do tipo de parto?
Precisamos pensar na individualidade. Se a mulher já era ativa e teve um parto normal, sem complicações, assim que ela se sentir disposta, pode voltar a uma rotina de exercícios de acordo com o que gosta e com o tempo que tiver disponível. Porém, pela minha experiência como doula, a maioria demora de 4 a 6 meses para engrenar em alguma atividade específica, com horários determinados, pois até conseguirmos criar uma rotina com o bebê e tudo que a maternidade demanda, junto ao cansaço, dificulta bastante.
Nas cesáreas é preciso mais cuidado, pois a quantidade de músculos cortados é grande e por fora a cicatrização acontece relativamente rápido, entre 40 e 50 dias, mas internamente o processo é outro, bem mais demorado . Então, caso queira e tenha disposição para iniciar sua prática, é importante retornar com atividades mais moderadas.
Quando chega esse momento, por onde e como começar?
Acredito que, quando possível, fazer passeios empurrando o carrinho ao ar livre, vendo o dia já nos faz bem. Lembrando, claro, que estou pensando nas mulheres que neste momento não possuem uma babá, por exemplo. Quem faz a opção de ter uma auxiliar para os cuidados com o bebê, tem mais tempo livre para descansar, o que facilita muito o retorno às suas práticas.
Para quem fez a opção de cuidar integralmente do bebê, acredito que ter uma boa rede de apoio faz toda a diferença. Aquela amiga que te entende, a mãe que está disposta a ajudar ou o pai da criança. A rotina de cuidados já é uma atividade intensa e muitas vezes brinco que você só quer tomar um banho tranquila. Tudo vai depender, principalmente, se você está se sentindo exausta ou se está bem.
Se estiver exausta, acredite, a melhor opção é aproveitar as brechas para dormir e se alimentar bem. Lembre-se que você gerou por nove meses e depois, independentemente do tipo de parto, passou por ele. Isso, por si só, gera um grande desgaste fisiológico e o descanso é essencial para a sua recuperação.
Adote atividades que visem a sua saúde, o alívio do stress e o bem-estar. Acredite, isso fará a diferença, bem mais que o seu abdômen chapado.
E quanto à amamentação – mães podem se exercitar durante esse período? Existe algum benefício em fazer isso?
Amamentar não traz nenhum empecilho à prática de atividades físicas. O que pode acontecer é que, devido à vasodilatação causada pelo movimento, pode haver vazamentos. O melhor é praticar após ter amamentado e, como as mamas ficam doloridas, dependendo da posição corporal, pode ser incômodo.
Muitas mulheres nessa fase reclamam do surgimento de incontinência urinária. Quais atividades são indicadas para recuperar os músculos do assoalho pélvico?
Sobre o assoalho pélvico, todas nós deveríamos ter consciência e trabalhá-lo sempre. É super importante para a nossa saúde íntima, na prevenção da incontinência urinária e até mesmo pelo aumento do próprio prazer. Hoje existem muitos fisioterapeutas especializados no assoalho pélvico que fazem um trabalho pré-parto para ajudar na expulsão (parto normal).
Porém, todo o trabalho de conscientização e controle dessa área ajuda muito no pós-parto e, este tipo de trabalho pode ser iniciado após alta médica ou no parto normal. Se a mulher não sentir dor, pode dar início quando for para a casa.
São movimentos simples, que são totalmente possíveis de se encaixar na sua nova rotina, e com certeza, posso lhe garantir que ter controle sobre o ato de urinar e ter relação sem dor tem um peso enorme na sua qualidade de vida, bem mais que uns quilos, ou como brinco com minha filha, “uma bordinha de catupiry no abdômen”. Se você estiver bem, em paz, poderá cuidar do seu bebê. Mantenha primeiramente a sua saúde, em todos os aspectos, e depois poderá voltar ao que tiver vontade.
Um desejo comum depois do parto é “voltar ao peso” anterior à gravidez. Que conselhos você daria para traçar essa meta de uma forma gentil consigo mesma?
Aprendam a ser pacientes com vocês. Como o bebê, uma mãe também acabou de nascer, e muitas vezes não sabemos o que é melhor. Ouça seus instintos, eles realmente estão aí dentro de você e, se você deixar, muitas vezes, serão o seu melhor conselheiro.
Você tem alguma outra dica de bem-estar para as mamães que estão nesta fase?
Leiam, se informem e procurem conversar (pais) sobre o que acreditam ser a forma certa de criar este pequeno ser. Se ele irá para o berço, se dormirá sozinho, se você vai dar chupeta ou não… Faça de acordo com o que você acredita ser o melhor, pois sempre há muitos palpites, o que às vezes gera atrito e desgastes desnecessários. Principalmente neste momento, siga o bom senso e o que você acredita ser o correto.
Tente deixar a casa ao entardecer mais silenciosa, diminua a luminosidade, faça uso de sons calmantes e aromas. Proporcionar um ambiente tranquilo e acolhedor, fará bem a todos.
Lembre-se que nossos filhos são nossos reflexos. Se você se acalmar, o mesmo acontecerá com o bebê. Quando sentir necessidade de apoio de qualquer tipo, não tenha vergonha de pedir. Verbalize! Nem sempre as pessoas leem o que está na nossa mente, principalmente nossos companheiros. Muitas vezes eles têm medo de invadir seu espaço. Verbalize e compreenda que, da mesma forma que você, o pai também acabou de nascer!
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